A Ferrari deixou meio-mundo de boca aberta no salão Automóvel de Turim e não era para menos – foi mostrado o 365 GT4 Berlinetta Boxer, o primeiro Grande Turismo da marca de Maranello com motor central, apresentado como um Ferrari,
em contraste com o Dino, que ficou conhecido como "quase um Ferrari".
Enzo Ferrari nunca gostou deste tipo de arquitectura e resistiu até ser possível aos motores traseiros que os ingleses afirmaram na Fórmula 1 do final dos anos 50. O tradicionalismo do Comendador manteve a Ferrari fiel aos grandes motores dianteiros e à tracção traseira, mas esta solução já tinha outras alternativas quando a marca apresentou o
365 GTB4 "Daytona" no Salão Automóvel de Paris em 1968. Nessa altura a modernidade passava pelo Lamborghini Miura de motor central, desenhado por
Marcello Gandini e apresentado no Salão Automóvel de Genebra de 1966.
Mas o senhor de Maranello foi impotente para resistir aos sinais do tempo que passava e a Ferrari avançou com o projecto do primeiro coupé de motor central, uma alternativa fundamental para suceder ao "Daytona". Basta dizer que era 35 cm mais curto do que o "Daytona", mas a distância entre eixos era superior.
O desenho foi entregue a Sergio Pininfarina e a forma cortou radicalmente com a imagem de qualquer outro Ferrari, ao mesmo tempo que assumiu uma identidade própria, marcada por novas linhas e volumetrias diferentes de um coupé de dois lugares.
A estrutura da carroçaria foi construída em aço, mas o capot dianteiro, as portas e o capot traseiro foram realizados em alumínio, havendo ainda vários elementos em fibra de vidro. Utilizou um motor de 12 cilindros opostos e o nome (365 GT4) é elucidativo para a época: 365 era a cilindrada Unitária, que multiplicada por 12 (e arredondada) indica os 4 390 cc de cilindrada que garantiam 380 cv de potência. A Ferrari reivindicou uma velocidade máxima perto de 300 km/h.
Este coupé esteve em produção entre 1973 e 1976, altura em que deu origem a uma versão ainda mais radical: o 512 BB.