Gilles Villeneuve pode ser recordado como um diletante, para quem as vitórias eram mais importantes do que os campeonatos, mas em 1982 o canadiano apostou forte no título. Tinha percebido que vitórias isoladas, por mais mediáticas que fossem, não eram suficientes.
Foi um ano conturbado em termos desportivos, em que se abriu uma guerra, não só entre a federação internacional do automóvel (FIA) e a associação de construtores da F1 (FOCA), mas também ao nível de equipas como a Ferrari, que, descontente com o tratamento por parte da Michelin, optou pelos pneus da Goodyear.
Ao volante dos novos 126 C2, Gilles Villeneuve e Didier Pironi não tinham uma hierarquia definida, mas no GP de San Marino (a quarta corrida da temporada), o canadiano estava no primeiro lugar à frente de Pironi quando viu no muro das boxes um painel onde se lia "slow", o que assumiu como sendo uma indicação para serem mantidas as posições. Só que Pironi esqueceu-se da indicação e passou para o primeiro lugar.
Os dois Ferrari estavam a rodar na casa dos 1m 37,05/1m 37,08s, e depois da ultrapassagem baixou o ritmo para a casa dos 1m 35s. Para Gilles foi uma traição que o fez perder o discernimento.
Duas semanas depois, a revolta do canadiano ainda não se tinha apaziguado. Nos treinos para o GP da Bélgica, disputados em Zolder sob chuva intensa que reduzia a visibilidade, o canadiano perseguia a "pole" de cabeça perdida. Queria ganhar.
Quando se aproximou de Jochen Mass, o alemão deslocou-se para direita. Gilles não terá percebido e bateu com a roda anterior esquerda no pneu traseiro direito do March.
O impacto foi muto violento. O Ferrari levantou voo, deu uma cambalhota no ar, e o piloto foi projectado para fora do habitáculo. O canadiano ainda foi transportado ao hospital, mas acabou por perder a vida.
Foi um final dramático para a carreira de um piloto que marcou uma época na F1. Um homem que só pensava na vitória, dando tudo para a conquistar e exigindo ainda mais dos seus monolugares.
"Quem o apreciava, vibrava com o seu ardor, com a capacidade destrutiva que tinha ao pilotar, moendo semi-eixos, caixas de velocidades e travões, ensinando (à equipa)
o que é necessário fazer para que um piloto se possa defender num momento imprevisível. Foi um campeão da combatividade e deu à Ferrari uma grande notoriedade. Queria-lhe bem", escreveu Enzo Ferrari no livro "Piloti Chi Gente".