Didier Pironi pode ser recordado pelo seu comportamento irreverente. Perdeu a vida a 23 de Agosto de 1987, num acidente ao largo da ilha de Wight, durante uma prova de Offshore, quando a ondulação virou o Colibri, um barco que lhe serviu como escape para a frustração de ter abandonado a F1.
Nascido a 26 de Março de 1952 em Villecresnes, teve um percurso brilhante nas fórmulas de promoção. Chegou à F1 com a Tyrrell (1978 e 1979) e Ligier (1980), antes de chegar à Ferrari.
"Como Phil Hill [1927-2008],
gostava da velocidade e, como poucos, era capaz de manter o pé no fundo. Eficaz nas provas de desenvolvimento e na qualificação, era capaz de administrar e interpretar uma corrida, com lucidez", refere Enzo Ferrari no seu livro "Piloti, chi gente"...
Didier Pironi nunca escondeu que o seu grande objectivo era ser o primeiro campeão do mundo francês e, se chegou à Scuderia no momento certo para conseguir passar da teoria à prática, encontrou o companheiro errado: Gilles Villeneuve, o mágico...
Mas criaram-se grandes cumplicidades. Ambos viviam em Monte Carlo e viajavam juntos para Fiorano, fazendo corridas ao volante dos seus Ferrari, dando grandes dores de cabeça aos "carabinieri". Outro dos seus divertimentos era viajar juntos e quem guiava ou quem estava sentado no lado direito tentava assustar o outro, nem que fosse necessário puxar inopinadamente o travão de mão...
A relação com Pironi era muito mais forte do que aquela que alguma vez o ligou a Jody Schecker, um piloto "menos rápido" e que sempre respeitou em 1979. Foi assim até ao GP de S. Marino em 1982 onde Pironi roubou a vitória a Villeneuve. Para o canadiano foi uma "punhalada pelas costas" de alguém que considerava um amigo. Diz quem o conheceu de perto que era rancoroso, mas quando oferecia a sua amizade a alguém era para a vida.
Há quem veja neste episódio a destabilização emocional que esteve na origem do trágico acidente em Imola, quando ao tentar bater o melhor tempo da qualificação realizado por Didier Pironi, não se apercebeu que sob a chuva o March de Jochen Mass seguia para as boxes a velocidade reduzida. Os carros tocaram-se e o canadiano não resistiu à violência do despiste que se seguiu.
Como se isto não chegasse, Didier Pironi vivia graves problemas familiares que podem (ou não) ter a ver com o acidente do GP da Alemanha, disputado em Hockenheim a 8 de Agosto de 1982. Nos treinos, quando testava novos pneus da Goodyear, bateu na traseira do Renault de Alain Prost. O Ferrari voou e caiu à beira da pista e o francês sofreu graves lesões nas pernas.
Mesmo assim acalentou a esperança de regressar à F1. Chegou a fazer testes com a AGS e a LIgier em 1986, mas acabou por esquecer os automóveis para se dedicar à competição Offshore onde acabou por perder a vida. José Dolhem, o seu meio-irmão, ainda tentou recuperar o projecto Colibri, mas em Abril de 1988 perdeu a vida num acidente de aviação quando se dirigia para uma reunião com potenciais patrocinadores. Jean-Pierre Jarrier ainda tripulou este barco, que acabou por terminar a sua vida num museu.