1 232,66 Km/h é a velocidade a bater e o novo objectivo que está na ordem do dia para quem procura dilatar o recorde mundial de velocidade sobre a terra.
Desde a criação do automóvel que se iniciou uma corrida atrás de recordes de velocidade. Chegou-se assim a 1983, numa altura em que os monolugares de Fórmula 1 ainda tentavam chegar aos 300 km/h, quando o escocês Richard Noble atingiu os 1.019,25 Km no deserto de Black Rock, no estado americano do Nevada, ao volante do Thrust 2. Este recorde ficou perto da velocidade do som, o que desde logo abriu as portas para um novo desafio.
Em 1990, o Richard Noble descobriu que o americano Craig Breedlove, um renomado perseguidor de recordes, havia adquirido duas turbinas GE J-79 de avião e pretendia tentar bater o recorde de velocidade sobre a terra e assumiu a situação como um desafio pessoal. Começou assim, uma corrida nos dois lados do Atlântico. Noble encontrou no projectista Ron Ayers um parceiro ideal, apesar de este ter alguma relutância face à possibilidade de um veículo automóvel poder bater a velocidade do som, tanto mais que havia a possibilidade da onda de choque projectar o carro no ar, pelo que exigiu, desde a primeira hora, que o projecto só avançasse se houve garantias totais de segurança.
Começou assim a ser projectado um veículo com duas turbinas de avião colocadas à frente e uma fina fuselagem onde o piloto deveria ocupar o centro de gravidade do carro. Foi criado um protótipo à escala 1:25, impulsionado pela turbina de um míssil terra-ar, que permitiu validar o projecto do ThrustSSC.
Quando este foi construído em 1996, Richard Noble estava em crise financeira, pelo que não podia falhar. Os primeiros testes reais decorreram no deserto de Jafr, na Jordânia. Ao volante surgiu Andy Green, um piloto da força aérea britânica. O teste correu bem, mas apenas foram atingidas velocidades sub-sónicas, tanto mais que o local estava coberto de pedras o que obrigou a equipa a duas semanas de trabalho forçado para limpar a "pista".
Nessa altura, Craig Breedlove já tinha concluído o Spirit of America que efectuara testes na base aérea de Edwards, na Califórnia. As duas equipas acabaram por optar pelo mesmo local para a sua tentativa de recorde: o deserto de Black Rock.
Chegou-se assim ao dia 8 de Setembro de 1997, quando os dois candidatos se encontraram para o grande confronto.
Os riscos e a sofisticação tecnológica dificultaram a tarefa das duas equipas, mas depois de várias tentativas falhadas durante as quais os americanos foram os que mais sofreram, chegando a ver uma turbina "partida" depois desta ter sugado um objecto estranho, no dia 22 de Setembro de 1997, os britânicos conseguiram atingir os 1100 km/h. Mas não respeitaram o regulamento, que exigia que a tentativa fosse concretizada em dois sentidos e num espaço de tempo inferior a 60 minutos.
Por isso, o Thrust SSC de Richard Noble repetiu a tentativa no dia 15 de Outubro e nesse dia ultrapassou a velocidade do som, atingindo na ida a velocidade de 1 221,76 km/h para, 30 minutos depois, no regresso, chegar aos 1 232,657 km/h, a maior velocidade que algum veículo sobre rodas jamais alcançou.
Curiosamente, este recorde foi estabelecido 50 anos e um dia depois do piloto americano Chuck Yeager ter realizado o primeiro voo supersónico aos comandos de um avião.
Mas a história não acaba aqui: esta equipa está pronta para levar este recorde ainda mais longe.