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10 de Agosto de 1907: Itala venceu Pequim-Paris

00:01 - 10-08-2016
 
10 de Agosto de 1907: Itala venceu Pequim-Paris10 de Agosto de 1907: Itala venceu Pequim-Paris10 de Agosto de 1907: Itala venceu Pequim-Paris10 de Agosto de 1907: Itala venceu Pequim-Paris10 de Agosto de 1907: Itala venceu Pequim-Paris10 de Agosto de 1907: Itala venceu Pequim-Paris10 de Agosto de 1907: Itala venceu Pequim-Paris10 de Agosto de 1907: Itala venceu Pequim-Paris10 de Agosto de 1907: Itala venceu Pequim-Paris10 de Agosto de 1907: Itala venceu Pequim-Paris10 de Agosto de 1907: Itala venceu Pequim-Paris
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No dia 10 de Agosto de 1907, o Itala 40hp do conde Scipione Borghese chegou a Paris, depois de uma maratona entre Pequim e a capital francesa. Foi um desafio transcendente para a época...

Tudo começou no dia 31 de Janeiro de 1907, quando surgiu um anúncio onde se podia ler: "Há alguém interessado em ir este Verão de Paris a Pequim em automóvel?".

Na época, a ideia era muito mais louca do que hoje. O primeiro automóvel tinha sido patenteado por Karl Benz havia apenas 21 anos, e a primeira corrida de automóveis (disputada ente Paris e Rouen) tinha acontecido havia 13 anos. No entanto, muitos aceitaram o desafio, mas quando a data do início da corrida se aproximou poucos responderam à chamada. As difíceis condições meteorológicas que se sentiam na Europa obrigaram a alterar o programa inicial, e a partida foi deslocada para Pequim e a chegada agendada para Paris.

Na data do embarque para a China, apenas compareceram cinco concorrentes. Entre eles, destacava-se o conde Scipione Borghese, com o seu Itala 40hp, para além de Charles Godard com um Spyker 15hp, dois De Dion Bouton conduzidos por Collignon e Cormier, e um triciclo Contal 6hp de Auguste Pons.

A partida em Pequim teve lugar na segunda-feira, dia 10 de Junho de 1907, e os concorrentes tinham pela frente cerca de 15.000 quilómetros de um percurso onde poucas ou nenhumas estradas existiam, as referências eram escassas e a orientação difícil.

Para quem fez a ligação Paris-Pequim 99 anos depois, é difícil imaginar a coragem dos onze europeus que assumiram esta aventura, tanto mais que optaram por um caminho onde ainda hoje há poucas estradas. Atravessar a Ásia pela Mongólia é uma loucura, mas foi por aí que seguiu a corrida de 1907. Sem estradas, os concorrentes tiveram de descobrir o seu próprio caminho, e muitas vezes tiveram de recorrer à ajuda dos nómadas para conseguirem progredir, já que os veículos não tinham força para seguir em frente, quer pela ausência de caminhos, quer devido à lama ou em virtude de subidas acentuadas.

Hoje, atravessar a Rússia, cruzar a Mongólia e seguir pela China é uma aventura fácil devido a melhores ou piores estradas. Mas em 1907, ir da China para a Mongólia obrigou, em muitos casos, a reconstruir pontes ou fabricá-las com o auxílio de cordas e canas de bambu.

Os veículos estavam hiper-carregados com tudo o que os seus ocupantes consideravam necessário para a viagem. Sobressalentes, bagagens, alimentos, água e combustível representavam demasiado peso para estes veículos. Como é óbvio, o Contal, com apenas três rodas, foi o que mais dificuldades sentiu e, se cruzar as grandes planícies verdes da Mongólia foi uma dificuldade, quando chegou ao imenso deserto de Gobi tudo se tornou ainda mais difícil, já que o veículo não tinha força para transpor as dunas. Por isso, gastou muito combustível, e aquele de que necessitava era transportado no Spyker holandês. Um erro de comunicação deixou o triciclo para trás e, quando o seu condutor necessitou de combustível, não o conseguiu encontrar e por isso ficou pelo caminho. Esteve sozinho no deserto durante dia e meio, antes de ser salvo por uma caravana.

A corrida começou

Depois da travessia do deserto, pode dizer-se que começou realmente a corrida. O conde Scipione Borghese decidiu circundar o lago Baikal no caminho para Irkutsk, em vez de utilizar o barco que estava previsto pela organização, só que o percurso escolhido pelo italiano era praticamente desconhecido. No dia 28 de Junho, o Itala deixou o porto de Missowaya, mas a estrada que Borghese esperava encontrar não existia. O caminho que lhe tinha sido referenciado ou desaparecera ou estava bloqueado por árvores caídas, e as pontes existentes ofereciam pouca resistência, algumas das quais caíram após a passagem do Itala. Numa delas, a queda quase fez terminar a corrida do italiano que, para prosseguir, utilizou as construções do Transiberiano. Com duas rodas nas chulipas e duas na barreira lateral, continuou o seu caminho para Irkutsk, não sem antes ter perdido algum tempo para conseguir autorização do governo da Sibéria para utilizar esta via, o que mostra que já há 99 anos a burocracia era uma norma vigente na Rússia.

O grupo formado pelos De Dion Bouton e o Spyker, que tinham seguido o caminho inicialmente previsto, chegou a Irkutsk por comboio, depois de terem esperado dois dias pelo barco que lhes deveria ter garantido a travessia do lago Baikal. Godard tinha problemas com o seu Spyker: o magneto da ignição não funcionava e a caixa de velocidades tinha uma fuga de óleo. Mesmo assim, decidiu prosseguir, mas em Cheremkhovo a situação complicou-se e o condutor do Spyker optou por uma solução alternativa: colocou o carro num comboio para Tomsk, uma viagem de 1.350 km, onde era conhecida uma universidade técnica russa. A sua intenção era reparar o Spyker e regressar a Cheremkhovo, continuando a viagem de acordo com as regras da corrida.

Viagem triunfal

Enquanto isto, o conde Scipione Borghese tirava partido da superior potência do Itala e do excelente trabalho de Ettore Guizzardi, o mecânico que o acompanhava e que conseguiu resolver todos os problemas técnicos que surgiram ao longo do percurso. O italiano chegou a Moscovo no dia 27 de Julho. A sua vantagem era tão grande que lhe permitiu comparecer em todas as recepções e jantares dados em sua honra. Depois deste fantástico acolhimento, o conde tomou a decisão de fazer um longo desvio à rota inicial da corrida para se deslocar a São Petersburgo, onde na época residia a corte imperial. Foram mais recepções e mais aclamações, antes de o calendário o chamar de novo à estrada para a viagem final até Paris.

O conde Scipione Borghese chegou à capital francesa 62 dias depois de ter partido de Pequim. Era um dia cinzento e chuvoso, mas isso não afastou a multidão de acorrer aos "boulevards" para vitoriar a passagem do Itala. Em alguns locais, ouviu-se a música de "Aida", numa altura em que os adversários do italiano ainda estavam na Rússia.

Segundo o telégrafo, os perseguidores do Itala estavam entre Nizhny Novgorod e Moscovo sob uma terrível intempérie e, devido à falta de combustível, o Spyker (que era mais rápido que os De Dion Bouton) seguia à frente para tentar encontrar combustível nas farmácias das cidades.

O pelotão dos perseguidores de Borghese chegou a Paris no dia 31 de Agosto de 1907, cerca de três semanas depois do italiano. A sua recepção voltou a ser festiva, mas o jornal "Le Matin" não tinha conseguido aquele que era o seu grande objectivo – promover a indústria automóvel francesa –, embora tivesse conseguido afirmar o automóvel como o novo meio de transporte do mundo moderno.
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