Tudo indica que estamos a chegar ao fim do tempo das mentiras sobre os consumos e as emissões poluentes declaradas por TODOS os construtores automóveis. Foi preciso "agarrar" um Grupo/Marca com o peso da VW para abrir os olhos daqueles que nunca quiseram ver a FRAUDE que, em maior ou menor grau, foi praticada por todos.

É legítimo que aqueles que são acusados, ou olhados com suspeição, sacudam a água do capote, argumentando que agiram de acordo com a lei, mas não podemos esquecer que também eles ajudaram a arquitectar as regras que os "absolvem". Tudo se resume numa sigla enigmática – ciclo NEDC – que o comum dos mortais nem suspeita que existe.

Para não baralhar ainda mais a questão, dizemos apenas que o NEDC permite que os testes de consumos e emissões sejam realizados em laboratórios, em ambientes mais do que artificiais, sem qualquer relação com o dia-a-dia da vida de um motor/automóvel e, em muitos casos, sem que o motor esteja próximo do automóvel em que virá a ser utilizado.

Isto nunca fez sentido, mas foi necessário transformar-se num escândalo nos EUA para a Europa perceber que é fundamental mudar as regras. É isso que vai acontecer, mas teremos de esperar mais um ano para que seja adoptada uma nova legislação para medição de consumos e emissões poluentes, que já tem nome: Real Driving Emissions test (RDE).

Este trabalho está a ser realizado pela Comissão Europeia, e em Bruxelas o tempo tem muito tempo e nunca não há pressas. Por isso, até há construtores como o Grupo PSA, que já avançaram com os valores reais dos consumos dos modelos Peugeot/Citroën/DS e os resultados são esclarecedores sobre a mentira dos valores NEDC e a (menos escandalosa) realidade que poderá surgir com o RDE.

Mesmo assim, os testes RDE não vão acabar com os ensaios laboratoriais NEDC. Tudo indica que vão apenas complementá-los até que seja adoptada uma nova regra burocrática – o World Harmonized Light Vehicle Test Procedure (WLTP) – que se tudo correr bem nunca surgirá antes de 2018...

Diz-se que o WLTP será um teste mais realista. Irá determinar condições de utilização próximas da realidade, acelerações e desacelerações típicas de uma utilização quotidiana e obrigará os veículos a integrarem níveis de equipamento de conforto e segurança pré-definidos, porque o peso é fundamental para o consumo.

Também estão previstos testes de estrada em percursos usuais para medir as emissões de poluentes com um sistema específico associado a um GPS e a uma estação meteorológica para verificar onde foram realizados, a que altitude e quais as condições. Estes dados serão analisados e só depois certificados.

À partida o processo parece ser demasiado burocrático, mas se funcionar cá estaremos para aplaudir os resultados. Até lá, o melhor é esperar para ver e continuar a acreditar que carros como o novo Honda NSX de 581 cv, que está a ser apresentado no Autódromo do Estoril, são capazes de realizar consumos médios de 10 litros aos 100 km...