As preocupações com a segurança dos automóveis autónomos não são de agora. Há cerca de dois anos o FBI lançou um alerta para o facto dos veículos com tecnologia de condução autónoma se poderem converter em verdadeiras armas letais nas mãos (e
nas mentes!) erradas. E o atentado de Nice, que fez 84 mortos, acaba de confirmar estas suspeitas.
Hoje em dia já há tecnologia que permite programar um veículo autónomo para ir do ponto A ao ponto B. Imagine então que o camião utilizado por Mohamed Lahouaiej Bouhlel estava equipado com um mecanismo de condução autónoma. Isso iria permitir, por exemplo, que este terrorista fizesse este mesmo ataque desde um lugar remoto, fazendo com que fosse quase impossível para a Polícia descobrir quem tinha sido o autor.
São questões que nos deixam a todos preocupados, sobretudo porque se sentem que se algo do género ainda não aconteceu não foi por falta de tecnologia. Essa há muito que está disponível, basta pensar nos drones, que em algumas situações já substituíram os aviões tripulados.
Por tudo isto, é fundamental que a legislação seja revista e as regras adequadas para que quando esta tecnologia chegar (fala-se que poderá acontecer por volta do ano 2020) seja o mais segura possível e difícil (já para não dizer impossível) de manipular.
O Governo alemão já está a trabalhar nesse sentido e o Ministério dos Transportes acaba de apresentar uma proposta que visa
obrigar todos os fabricantes de veículos com tecnologia "piloto automático" a instalar caixas negras nos seus automóveis, para que possam manter um registo actualizado de todas as acções do veículo e do condutor.
Tesla, um jogador à parte
A maioria dos fabricantes automóveis e das personalidades deste meio defende que os automóveis autónomos só poderão ser uma realidade quando todos os veículos estiverem equipados com esta tecnologia. Assim, será possível os carros comunicarem entre si e saber sempre o que os rodeia. Esta é uma análise racional e, sobretudo, honesta.
Contudo, a Tesla não partilha deste realismo e começou a vender os seus automóveis com tecnologia "autopilot". E como em tudo, há sempre alguma coisa que corre mal. E no caso da Tesla, das primeiras vezes que correu mal o resultado foi um
acidente fatal que envolveu um Model S que circulava no modo "piloto automático".
Depois deste revés, muitas questões se levantaram, nomeadamente de quem seria a responsabilidade. Mas a Tesla
emitiu um comunicado a dizer que apesar dos carros terem tecnologia de condução autónoma é sempre obrigatório estar alguém ao volante, para que possa tomar as "rédeas" no caso de existir uma emergência. Mas quando se vende um carro com a opção "autopilot" esta interpretação não é assim tão óbvia.
Futuro dos veículos autónomos
O futuro dos automóveis com capacidades autónomas está longe de ser tranquilo. São muitos os obstáculos legais que terão que ser ultrapassados para até que esta realidade veja a luz do dia.
O normal é que comece a ser criada (ou pelo menos pensada) legislação capaz de regular a sua circulação, que as seguradoras comecem a desenvolver propostas para este tipo de automóveis e que continuem a ser feitos testes em ambientes controlados (
tais como a M-City) para desenvolver o software destes veículos de forma a minimizar as probabilidades de falhas.
Outro dos caminhos que as marcas estão a adoptar é o de "contratar" hackers para descobrir todas as brechas de segurança dos seus veículos. E se a Tesla há muito adoptou um sistema que
recompensa quem "violar" o software dos seus veículos e comunicar o problema à empresa, o Grupo Fiat Chrysler Automobiles (FCA) acaba de assumir a mesma estratégia.