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Responsabilidade… e bom senso

Responsabilidade… e bom senso

11:49 - 22-08-2016
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Passadas duas semanas sobre o longo corte da nossa principal auto-estrada devido à proximidade de um pavoroso incêndio, já se poderá falar mais desapaixonadamente sobre o sucedido. E sobre a forma como a concessionária da A1, a Brisa perdeu – como escreveu um dos milhares de automobilistas retidos, no seu portal de queixas – "uma oportunidade de mostrar que é uma grande empresa e que está preparada para situações mais adversas".

Não está, obviamente, em causa, a decisão de cortar o trânsito na A1, a partir do momento em que bombeiros e Protecção Civil o determinam por questões de segurança. Já custa mais compreender como é que uma decisão dessas não é acompanhada por um plano imediato de contingência que impeça o acesso de mais utentes às zonas onde já se acumulam veículos e informações imediatas ainda mais a montante de ambas as áreas. Foi por não haver uma rápida diversão do trânsito para fora da A1 que se criaram filas calculadas em 10 a 12 km no sentido sul/norte e em… 15 km no sentido contrário!

A esta primeira falha, segue-se algo que nos deve preocupar a todos… Como é que na nossa principal auto-estrada há dois engarrafamentos de dezenas de quilómetros sem qualquer hipótese de evacuação? Em cinco horas em que tudo esteve parado (estando a estrada do outro lado vazia) não houve ponto nenhum em que se abrisse um separador central para, numa acção coordenada pelas forças de segurança e elementos da concessionária, retirar os veículos e deixá-los voltar para trás? Teremos de nos conformar com esta sensação… claustrofóbica de que, quando entramos numa auto-estrada, só nos nós de acesso teremos hipótese de sair, aconteça o que acontecer?! E se o incêndio se tivesse descontrolado por completo e invadido a A1?...

Depois, houve ainda a falta de uma assistência mínima aos milhares de pessoas retidas à torreira do sol, num dia em que faziam 40 ºC, durante cinco horas. É natural que quem viaje entre as duas maiores cidades portuguesas, num percurso de 300 km de auto-estrada com meia-dúzia de áreas de serviço não transporte mantimentos para estar cinco horas… numa frigideira. E é lícito que espere que, estando a pagar um serviço, a entidade a quem o paga vá em seu socorro numa situação-limite.

A Brisa alega que enviou o auxílio possível – parece que foi um funcionário com uma carrinha com algumas águas… tonando a situação ainda mais "explosiva", obrigando o pobre homem a refugiar-se e a fugir! – e que a responsabilidade dessa assistência seria da Protecção Civil. Mas, lá está, é nestas alturas que as grandes empresas fazem a diferença… Trabalho de casa para os responsáveis da Brisa: ver 500 vezes o vídeo daquele casal que distribuiu mil litros de água através da rede da A1, sem receber um cêntimo em troca!!

Até aqui falámos apenas de responsabilidades. Agora, a parte do bom senso. Ou da sua total ausência! É um facto indiscutível que o corte do trânsito na A1 sucedeu por motivos a que a Brisa é totalmente alheia. Mas, que diabo, a empresa teve os seus clientes numa situação extrema, expostos a temperaturas altíssimas durante horas a fio e sem qualquer assistência, alguns demoraram sete horas a fazer uma viagem que esperavam fazer em duas horas e meia. E não há nenhum responsável que suspenda, durante as horas estimadas do escoamento de todo aquele trânsito acumulado, o pagamento de portagens?!

Terá sido pelo raciocínio mesquinho de que assim estariam a deixar de pagar alguns que não tinham estado ali presos?... Ou, pior ainda… nem se lembraram de tal coisa, de tal forma estão focados na cobrança, independentemente da qualidade do serviço que prestam?! Ou que, neste caso, não prestaram, independentemente de quem é a responsabilidade que do cliente é que não é de certeza! Estar aquelas horas todas trancado e sem hipótese de fuga, naquelas condições e, chegado ao fim, ainda ter de pagar, causa uma natural sensação de revolta e indignidade. E a Brisa voltou a perder "uma oportunidade de mostrar que é uma grande empresa e que está preparada para situações mais adversas"


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