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Como Le Mans se vai adaptar à nova mobilidade

Como Le Mans se vai adaptar à nova mobilidade

17:25 - 24-06-2016
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Após tão dramático final da última edição das 24 Horas de Le Mans é hora de começar já a pensar no futuro da lendária prova de resistência francesa, uma das mais célebres corridas de automóveis do Mundo. Uma coisa é certa: apesar da compreensível depressão causada por tão terrível desfecho, a Toyota voltará a estar presente para, uma vez mais, buscar a sua primeira vitória!

Até porque o Automobile Club de L’Ouest (ACO), organizador da prova e o clube que define os regulamentos das corridas de resistência (em concordância com a FIA), aceitou o pedido dos construtores, adiando para 2018 a entrada em vigor das novas regras. Ou seja, tirando pequenas alterações – o extractor traseiro estará 5 mm mais baixo e o "lábio" da asa dianteira um pouco mais alto, face ao solo –, os carros deste ano continuarão válidos para a próxima edição.

A partir de 2018, contudo, haverá um virar de página, na tentativa de afastar o regulamento das corridas de resistência do da Fórmula 1. Porque, de momento, há demasiadas semelhanças, em especial na arquitectura da unidade motriz, com motor térmico auxiliado por uma componente híbrida. A única diferença é que na F1 o motor térmico é fixo (1.6 V6 turbo), enquanto na resistência é quase "à escolha": a Porsche usa um V4 2.0 turbo; a Toyota um V6 2.4 biturbo; a Audi um V6 4.0 turbodiesel.

Todos têm, depois, unidades de recuperação de energia de travagem que transformam em energia eléctrica que dá mais algumas centenas de cavalos através de motores eléctricos colocados nas rodas dianteiras. O que confere aos carros de Le Mans tracção integral, ao contrário do que sucede com os F1. Os Porsche têm ainda sistema de regeneração da energia térmica do turbocompressor, tal como os F1 (dispositivo MGU-H), o que faz com que o carro vencedor das últimas duas edições de Le Mans ronde os 1000 cavalos de potência!

Como dissemos, no próximo ano deveriam entrar em vigor novos regulamentos que, a pedido de Toyota, Audi e Porsche, foram adiados para 2018. Tudo porque é também em 2017 que se estreia a nova regulamentação da Fórmula 1 que quer tornar os carros 5 a 6 s mais rápidos por volta. E é aqui que ambas as disciplinas se pretendem afastar: a F1 concentrar-se, de novo, na "performance" pura, explorando as evoluções do motor a combustão (embora sem abandonar a componente híbrida); e na resistência dar mais importância ao lado híbrido, à componente laboratorial do desenvolvimento de soluções para a mobilidade do futuro, até à busca de novos combustíveis.

Nos projectos dos futuros regulamentos de Le Mans está em aberto a possibilidade de acolher o hidrogénio como combustível, num claro piscar de olho à BMW! A marca de Munique já domina a tecnologia de utilização do hidrogénio num motor a combustão – teve alguns exemplares do Série 7 que queimava o hidrogénio – e poderia interessar-se por experimentar Le Mans com um combustível não poluente.

A ideia do novo regulamento que vigorará entre 2018 e 2021 é aumentar a potência híbrida e reduzir o combustível disponível para os motores de combustão em cerca de 8%: ficará estabelecido um consumo máximo de 30 l/100 km para os motores a gasolina e de 22 l/100 km para os turbodiesel, o que é notável para carros com as "performances" dos veículos que lutam pela vitória em Le Mans! Se pegarmos numa versão desportiva de qualquer carro de estrada e dermos umas voltas bem rápidas a um autódromo, veremos que os consumos não andarão longe daqueles valores…

Por outro lado, o número de sistemas híbridos autorizados subirá para três, o que implica os sistemas de regeneração de energia de travagem (MGU-K) e do calor do turbo (MGU-H), mais um outro, eventualmente, a "flywheel" (ou roda de inércia) que a Audi utilizou até este ano. E ficará aberta a porta a novos combustíveis, não só ao hidrogénio mais também ao biogás… Mais interessante será o facto de os veículos híbridos (que continuarão a competir na categoria LMP1) terem a obrigação de, sempre que estiverem a percorrer a via das "boxes", terem de o fazer exclusivamente em modo eléctrico!

Ou seja, o ACO quer, com a alteração dos regulamentos, estabelecer que as 24 Horas de Le Mans são o terreno dos híbridos por excelência. A F1 ficará com as "performances" extremas, enquanto as competições totalmente "limpas" ficarão entregues à Fórmula E, com os seus motores 100% eléctricos. Como prova de resistência que é, Le Mans quer equivaler-se a uma longa viagem em que há que ser eficiente na gestão do combustível enquanto se está na estrada (neste caso na pista), mas se deve cortar as emissões a zero quando se entra na cidade, aqui representadas pelas "boxes".

É este o futuro das 24 Horas de Le Mans. Dias risonhos se abrem para a mais importante prova de "endurance" do Mundo, a mostrar que se sabe adaptar aos tempos que correm e olhar bem mais para a frente e ver onde estão os desafios futuros da mobilidade, dando-lhes o espaço necessário para o seu desenvolvimento. Ao mesmo tempo, torna-se a mais cativante das competições para atrair novos construtores! Os senhores do ACO nunca deram ponto sem nó…
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