Se gosta de automóveis, brinde à “colheita” de 1962...

Em tempo de Natal, quando uma grande refeição em família aconselha um vinho de excepção, vêm à baila as discussões sobre grandes colheitas e, se os automóveis fossem como o vinho, 1962 seria recordado como um ano transcendente...

Tal como acontece com os vinhos, o tempo ajuda a apurar os sabores. A idade ensina-nos a apreciar e valorizar qualidades que na altura do lançamento podíamos olhar como meros ditames da moda ou tendências do momento. Hoje, o ano de 1962 parece muito distante. A década dos Beatles faz parte de algum revivalismo nostálgico, que a maioria reconhece, embora poucos tenham memórias marcantes do que aconteceu há mais de meio século.

FERRARI 250 GTO. No entanto, há automóveis cuja imagem sobreviveu à inexorável passagem do tempo, mas que continuam a ser marcantes e a despertar paixões. Exemplos não faltam e, de todos quantos seria possível evocar, o Ferrari 250 GTO continua a ser uma estrela de primeira grandeza na história do automóvel.

Há quem o refira como um dos mais belos automóveis de sempre e todos reconhecem as suas qualidades dinâmicas que o tornaram imbatível nas estradas e um adversário de peso em todas as pistas onde surgiu. Lançado em 1962, foi produzido até 1964. Equipado com um motor V12 de 3.0 litros com 300 cv de potência, era um automóvel muito exclusivo. Apenas foram produzidas 36 unidades da série original e todos elas valem hoje milhões, sendo cobiçadas pelos maiores coleccionadores do mundo.

Tal como os grandes vinhos, os grandes automóveis, quanto mais antigos, mais valiosos se tornam. Basta recordar que em 1987 o chassis 4757GT foi vendido num leilão por 1,6 milhões de dólares, depois de ter sido apreendido pelo FBI a Robert C. Murray, um conhecido traficante de droga. Mais recentemente, em 2011, o 250 GTO que foi produzido para Stirling Moss tornou-se no automóvel mais caro de sempre (terá sido vendido por 35 milhões de dólares num negócio privado de que pouco se sabe). Mas são conhecidos os 28,5 milhões de euros pagos pelo GTO com o chassis 3851 GT, num leilão realizado em Carmel, nos EUA, em 2014.

OUTROS "NÉCTARES". Para além do Ferrari 250 GTO, o ano de1962 será recordado por outros excelentes automóveis. Foi o ano de lançamento de modelos tão marcantes como o Alfa Romeo Giulia, o BMW 1500 (que está na origem da actual Serie 3) e o Alpine Renault A110, que marcou uma geração no Campeonato do Mundo de Ralis, para já não falar de clássicos como o Lotus Elan, o MG B, o Triumph Spitfire ou o Shelby Cobra.

INOVAÇÃO. Qualquer destes automóveis tem um lugar muito especial na história do automóvel e alguns deles, como o Alpine A110 ou o Lotus Elan, inovaram com soluções arrojadas como as carroçarias em fibra de vidro. No entanto, seria injusto não destacar o Alfa Romeo Giulia, que ficou conhecido como "o carro de família que vence corridas", o BMW 1500 que a BMW apresentou como a "Neue Klasse" e deu origem à afirmação da marca bávara, ou os britânicos MG B e Triumph Spitfire, que democratizaram o conceito roadster, que tem no Shelby Cobra o seu maior expoente de sempre, graças ao arrojo de uma carroçaria tão simples como leve, que escondia um monstruoso motor V8 de 4,2 litros.