Esta é uma história que contraria tudo o que sabemos e nos é contado acerca do desenvolvimento de novos projectos e da construção de automóveis brilhantes e competitivos. Um carro genial, vencedor nas pistas, fascinante e ultra exclusivo nas estradas, feito em apenas… 128 dias! Foi há vinte anos que a Mercedes e a AMG fizeram o CLK GTR "em menos de nada", mal sabendo que estavam a criar um nova lenda no mundo automóvel.
O curto documentário que pode ver em baixo explica bem a história deste carro que nasceu para as pistas, depois de a Mercedes ter ficado sem rivais para competir no DTM, em finais de 1996. Aproveitou, então, a criação do campeonato FIA GT para arriscar numa nova competição, batendo-se com concorrentes de outro calibre, como a Porsche, Ferrari e a McLaren com o mítico F1 que ditava leis.
Enquanto fazia os primeiros projectos, a Mercedes comprou um McLaren F1 que tinha sido usado pela equipa Larbre Competition e trocou o motor BMW V12 pelo seu V12 6.0 de 600 cv (chegaria aos 630 cv) que iria utilizar. Foi nesse protótipo que testou não só o propulsor com que iria correr como alguns componentes aerodinâmicos do novo carro.
O modelo base escolhido foi o CLK, o correspondente ao actual Série E Coupé, embora só pelas formas, pois todo o chassis foi feito em fibra de carbono, com o motor instalado não na frente mais por trás do "cockpit", em posição central-traseira. O único problema que se colocava é que, para homologação do novo CLK GTR (assim se chamava o carro de competição) pela FIA, a Mercedes teria de construir 25 unidades para estrada.
Dos primeiros esboços à construção dos dois primeiros protótipos para a estreia na primeira corrida do campeonato de 1997 passaram-se… 128 dias, o que ainda hoje deve ser um recorde na concepção de modelos vencedores dos principais campeonatos internacionais! Mas o CLK GTR mostrou-se logo muito competitivo, alcançando a "pole" logo na sua primeira saída, embora na corrida os problemas de juventude tivessem frustrado um bom resultado.
A primeira vitória, e logo com uma dupla, apareceu à quarta corrida, pondo finalmente um fim ao domínio dos McLaren. Para 1998, o V12 foi trocado por um V8 que a marca achou mais adaptado ao desafio das 24 Horas de Le Mans, a que se juntou uma nova carroçaria que justificou a mudança de nome para CLK LM. O sucesso deste carro foi retumbante, vencendo as dez provas do campeonato FIA GT, mas falharia em Le Mans com dois abandonos por causa… dos motores!
Faltava ainda a construção das unidades de série que estavam prometidas à FIA e que foram feitas a um ritmo naturalmente lento, como é próprio em carros de competição adaptados para a estrada. Os "luxos" limitavam-se a um interior em pele e ao ar condicionado e a asa traseira era diferente, integrada na carroçaria. Foram feitos 20 coupés e 6 versões "roadster", dos quais um de cada com volante à direita, ambos para o sultão do Brunei…
Tinha nascido uma lenda, com uma passagem retumbante pelas pistas e com escassas dezenas de unidades que passaram a valer fortunas sempre que aparecem em leilões! Depois, em 1999, a Mercedes evoluiu ainda mais o seu automóvel de competição, estreando o CLR-GT1 que ficaria famoso mas por más razões, os três voos em Le Mans antes de serem retirados da corrida…