Na luta vertiginosa para ver quem domina melhor e mais rapidamente a tecnologia, os construtores automóveis, por vezes, parecem viver num mundo à parte e esquecer-se de ouvir o que os seus potenciais clientes realmente pretendem… Numa altura em que a maior parte das marcas acelera a fundo nos projectos de condução autónoma, um estudo feito entre consumidores norte-americanos e alemães veio demonstrar que mais de metade (55%) não está disposta a deixar-se guiar num veículo autónomo…
As preocupações com a segurança e com eventuais falhas dos sistemas tecnológicos estão no topo das razões que levaram a maioria dos inquiridos a recusar ser transportada num automóvel autónomo, preferindo ter um ser humano ao volante, a controlar o funcionamento da máquina. Temores que, no final, causavam uma sensação de desconforto que levavam as pessoas a recusar a ideia de andar num carro sem condutor.
"Receios de que os veículos autónomos fiquem confusos em situações inesperadas e preocupações com a segurança dos equipamentos e eventuais falhas estão entre as principais razões para recusar a utilização de veículos totalmente autónomos", revelou Mike Ramsey, director da pesquisa na Gartner, empresa de consultoria em tecnologia.
A pesquisa baseou-se num estudo já feito pelo maior clube automóvel dos Estados Unidos, o AAA, que revelava que 75% dos americanos tinham receio em entrar num automóvel totalmente autónomo. Um verdadeiro choque para os técnicos que, em Detroit ou Silicon Valley, desenvolvem as tecnologias que pretendem introduzir a condução autónoma a muito breve prazo. Pelos vistos, têm estado a trabalhar numa "bolha", isolados da opinião do mundo real…
É óbvio que esta percepção será também uma questão de cultura e de escalões etários, já que os veículos autónomos hão-de dirigir-se a uma geração mais jovem, mais habituada a lidar e a confiar na tecnologia. É por isso que há já várias empresas de tecnologia a fazer pequenos "workshops" com grupos limitados a explicar as vantagens dos veículos autónomos e com resultados interessantes.
A gigante Intel é uma dessas empresas e um dos responsáveis pelo programa de condução autónoma, Jack Weast, contou:
"Antes da experiência quase todos estavam ansiosos e a maioria não confiava nestas máquinas. Mas, depois de a experimentarem, todos disseram: ‘Conseguiu alterar a minha percepção desta tecnologia’ porque conseguimos explicá-la e criar uma experiência que aumentou a sua confiança". Mas Weast tem uma certeza:
"Há legados como o volante e os pedais que hão-de sempre atrapalhar… Enquanto estiverem no carro, a tendência do ser humano é de usá-los para ser ele a ter o controlo".
Os resultados do estudo da Gartner mostram, contudo, que as funções autónomas têm uma larga maioria a apoiá-las: se 55% dos inquiridos se recusavam a entrar num veículo 100% autónomo, 7 em cada 10 responderam afirmativamente quanto a andarem num automóvel semiautónomo, ou seja, que consiga desempenhar várias operações de forma autónoma mas exigindo sempre a vigilância do condutor.
Antes de as marcas anunciarem com enorme "estardalhaço" modelos com grau de autonomia de Níveis 4 ou 5 (ou seja, quase total e total), talvez devessem prestar primeiro atenção a estes estudos. E perceber o que podem fazer para eliminar a sensação de ansiedade a quem não se quer ver a andar num carro… sem nenhuma pessoa a controlá-lo!