A Volkswagen teve de parar partes da produção em seis das suas fábricas alemãs, com significativo impacto no fabrico dos modelos Golf e Passat, devido a uma disputa com dois fornecedores pertencentes ao mesmo grupo. No entanto, um acordo conseguido já hoje, após 20 horas de reunião entre as partes, permitirá que as fábricas regressem ao trabalho, passo a passo,
encurtando uma interrupção que se estimava em uma semana, com custos na ordem dos 70 milhões de euros!
Resumindo o problema, a VW estava em "guerra" com o Prevent Group que detém duas companhias: a Car Trim fornece os forros dos bancos para os Golf e Passat; a ES Automobilguss entrega componentes para as transmissões. A VW terá cancelado um contrato com a Car Trim no valor de 500 milhões de euros que deveria entrar em vigor no próximo ano e o grupo detentor da empresa pediu uma indemnização de 58 milhões de euros pelos investimentos já feitos para responder àquela encomenda. Como a VW se recusou a pagar, o Prevent Group cortou o fornecimento dos bancos e peças para transmissões, levando à situação extrema de obrigar a parar uma linha de montagem, enorme dor de cabeça para um construtor automóvel.
Ao todo, foram afectados 27.700 trabalhadores em seis unidades fabris, que tiveram dias de férias forçados. O acordo hoje alcançado incluiu uma cláusula em que ambas as partes se comprometeram… a não divulgar os seus termos. Foi também forçado, indirectamente, pelo próprio governo alemão pelos problemas que este inédito boicote de um fornecedor a um fabricante iria causar a todos os restantes fornecedores que, não parando a laboração, já tinham de estar a criar formas de armazenar as peças produzidas (com elevados custos) para quando a produção voltasse a arrancar…
Soube-se, entretanto, que o Prevent Group – que pertence ao empresário bósnio Nijaz Hastor – tem também um processo litigioso com a Daimler (Mercedes) que já data de 2013, também devido ao cancelamento de um contrato de fornecimento de bancos, em que pede uma indemnização de 40 milhões de euros.
Analistas olham para este caso com alguma preocupação… e espanto. Preocupação por detectarem até que ponto os gigantes da indústria automóvel chegam a "sufocar" os fornecedores, esmagando ao máximo as margens de lucro – há quem ligue o cancelamento do contrato da VW à necessidade de poupanças, na sequência das multas que há a pagar no caso
"Dieselgate" – e podendo levar ao colapso da cadeia de fornecimento e, consequentemente, da produção automóvel, tal como a conhecemos hoje.
Mas também não deixam de destacar o espantoso de um gigantesco produtor como a VW se deixar ficar totalmente dependente de um único fornecedor de média dimensão. Que, no espaço de uma semana, consegue provocar uma ruptura na produção dos dois modelos mais importantes da marca! Por esta altura, parece não haver nada que não aconteça à Volkswagen… só falta é saber até que ponto não é a própria marca a criar todos estes problemas em que se vê envolvida.