Fomos a Valência conhecer e conduzir a renovada geração dos Smart EQ ForTwo e ForFour, que a partir de agora só estão disponíveis com motorizações totalmente eléctricas.
Já se sabia que a marca ia adoptar uma estratégia livre de emissões para o início de 2020, mesmo que 2019 tenha sido um ano de recordes no nosso país: foi o melhor ano de sempre da marca em Portugal e a melhor quota de mercado da fabricante a nível internacional.
Em 2019, no nosso país, a Smart matriculou 4.071 automóveis, número que representa uma quota de mercado de 1,82%. Ainda assim, apenas 10% destas vendas foram de versões totalmente eléctricas, pelo que 2020 será um ano difícil para a marca da Daimler.
E tudo porque a partir de agora quem quiser comprar um Smart só poderá escolher a carroçaria, já que passa a haver apenas um motor… totalmente eléctrico.
Tal como acontecia na geração anterior, o novo Smart vai continuar a vender-se com três carroçarias distintas: ForTwo, ForTwo Cabrio e ForFour. A primeira, que podemos considerar como original, é a que mais vendas assegura em Portugal, representando 46,5% do mix em 2019. A ForFour segue-a de perto, com 44%, ao passo que a versão descapotável do ForTwo é que menos preferências reúne (apenas 9,5%). Para os novos modelos eléctricos esta tendência deverá manter-se.
Além de 2020 marcar o início da era 100% eléctrica da Smart, também marca o fim do acordo de parceria com a Renault e o início da "joint-venture" com os chineses da Geely, onde a nova empresa se irá centrar, em Ningbo.
O primeiro modelo resultante desta junção de forças vai aparecer em 2022 e deverá ser feito com base numa plataforma da fabricante chinesa, que soma vários anos de experiência com automóveis eléctricos. Não se sabe que tipo de automóvel será, mas se tivéssemos de adivinhar diríamos que será um citadino de "calças arregaçadas" para o segmento B. Resta-nos esperar para ver…
Certo, para já, é que este futuro "Smart-Geely" será produzido na China, ao passo que os Smart actuais vão continuar a ser produzidos em Hambach, em França.
As principais novidades da geração de 2020 dos Smart EQ ForTwo e ForFour estão centradas na imagem, agora muito mais robusta. Na frente destacam-se os novos pára-choques, a nova grelha, o novo logo (regresso à palavra smart…) e a nova assinatura luminosa. Pela primeira vez o ForTwo e o ForFour têm uma dianteira distinta - um em "A" e outro em "V" - e uma grelha pintada na mesma cor da carroçaria.
Avançando para o habitáculo, poucas alterações a registar, à excepção de novos revestimentos, que aumentam a qualidade geral do interior, e de um novo ecrã central de 8 polegadas que foi especialmente pensado para formar equipa com o "smartphone" do condutor.
Entre os bancos encontramos um apoio de braços que pode ser levantado e à frente do travão de mão há agora um espaço de arrumação para pequenos objectos.
No geral, a qualidade de construção é bastante elevada, com o interior "premium" a combinar na perfeição com a imagem exterior mais refinada.
A Smart passa a ser não só uma marca eléctrica mas também uma marca digital. A aplicação "Smart EQ Control"passa a levar a mobilidade eléctrica ao "smartphone" de cada condutor, já que permite consultar a autonomia restante e o estado de carga do veículo, bem como planear viagens diárias e programar o sistema de climatização à distância.
Os condutores podem aceder a todas estas informações no "smartphone" e, a partir de agora, no Apple Watch.
A aplicação "My Smart" continua a estar no centro de todas as atenções, já que permite aceder ao veículo remotamente. É possível bloquear e desbloquear as portas usando apenas o telemóvel, bem como consultar em tempo real a localização do mesmo.
Numa fase inicial, a função "Ready To Share" paga só estará disponível na Alemanha, sendo que a versão gratuita poderá ser utilizada na Alemanha, França, Espanha e Itália. Será que chega a Portugal? Teremos que aguardar…
Os lugares dianteiros (em ambos os modelos) são bastante confortáveis e a posição de condução é boa, muito por culpa dos bancos com apoio de cabeça integrado e com um bom suporte lateral. Porém, continua a não ser possível regular o volante em profundidade, só podemos fazê-lo em altura.
A experiência ao volante destes novos Smart continua a ser em tudo semelhante à dos Smart eléctricos que já se encontravam à venda. Se há automóvel que fazia sentido "electrizar" era este e esta opinião voltou a ser reforçada nesta estadia de dois dias em Valência.
Nascido para ser usado em percursos citadinos, o Smart da nova geração continua a permitir fazer inversão de marcha em espaços muito apertados, precisando de apenas 9 metros de diâmetro para fazer esta manobra. É impressionante e personifica, na perfeição, as valências deste modelo.
Com uma distância entre-eixos muita curta e com um peso muito baixo, o Smart continua a ser o "rei" da cidade. A agilidade impressiona e é acentuada pelo propulsor eléctrico, que assenta no mesmo motor eléctrico de 60 kW (equivalente a 82 cv) e 160 Nm de binário que já conhecíamos dos modelos anteriores.
A alimentar este motor está um "pack" de baterias de iões de lítio de 17,6 kWh que permite 133 quilómetros de autonomia. O conjunto de baterias é igual ao anterior, cuja autonomia anunciada era de 159 quilómetros, mas se essa autonomia tinha por base a homologação NEDC, estes 133 quilómetros já "obedecem" ao ciclo WLTP, bastante mais rigoroso.
Longe de ser um desportista, este Smart eléctrico é muito divertido de conduzir, seja na configuração ForTwo ou ForFour. Isso explica-se pela proximidade com a estrada, pela agilidade (é sempre importante reforçar este ponto!) e claro, pelo "poder" de aceleração que temos à nossa disposição.
Quanto à suspensão, continua a ser algo seca, fazendo-nos sentir tudo aquilo que "calcamos". Isto faz-se sentir ainda mais em pisos em mau estrado, com as "pancadas" da suspensão a contrastarem com a suavidade e o silêncio que o motor eléctrico proporciona.
De acordo com o relatório do Automóvel Club de Portugal sobre o perfil do condutor português, publicado em 2018, os portugueses conduzem em média entre 50 a 200 quilómetros por semana, o que na teoria não seria problema com um automóvel que oferece 133 quilómetros de autonomia. Ainda assim, neste percurso por Valência não conseguimos fazer consumos abaixo dos 16,5 kWh, o que representa uma autonomia real a rondar os 100 quilómetros.
Para manter a autonomia controlada é prudente andar sempre no modo "Eco", que reduz o ar que sai da climatização, limita a velocidade máxima e a capacidade de resposta e aumenta a capacidade de travagem regenerativa. Ainda assim, sempre que carregamos no acelerador a fundo a configuração "Eco" é ignorada e voltamos a ter toda a potência disponível. Esta solução é particularmente útil em ultrapassagens.
A "praia" do Smart é no centro da cidade, no meio da confusão, mas se o quiser levar para estrada aberta saiba que a velocidade máxima está limitada aos 130 km/h e que mesmo assim a autonomia cai vertiginosamente. A juntar-se a isto, é fácil notar alguma falta de aderência no eixo dianteiro, o que faz com que o sistema de controlo de estabilidade seja accionado muitas vezes.
Para carregar a bateria de 17,6 kWh vai precisar de seis horas, se o fizer numa tomada caseira, ou de 3,5 horas se usar uma WallBox, isto se recorrer ao carregador de 4,6 kW que equipa o modelo de série. Se optar pelo carregador de 22 kW (opcional) poderá levar a bateria dos 10 aos 80% de capacidade em apenas 40 minutos.
Recorde-se que a bateria tem uma garantia de fábrica de oito anos ou 100 mil quilómetros.
A imagem dos novos Smart está mais refinada e agressiva e isso também se sente ao volante. Sentimos que estamos ao comando de um automóvel mais robusto, ainda que a agilidade e o poder de disparo continuem a tornar a experiência de condução de um Smart muito divertida.
Com acabamentos de maior qualidade e mais conectado do que nunca, o novo Smart destaca-se pela suavidade e pelo silêncio a bordo, ainda que a suspensão demasiado dura nos vá lembrando, de quando em quando, que estamos num automóvel deste segmento.
Outro dos "contras" continua a ser o preço, algo que acompanha este modelo desde que foi lançado e que agora foi reforçado com esta aposta na electricidade.
O modelo de acesso à gama subiu quase 10 mil euros e agora para comprar um Smart é preciso gastar pelo menos 22.845 euros, para ao ForTwo. O renovado ForFour tem preços a começar nos 23.745 euros, com o modelo mais caro da gama, o Fortwo Cabrio, a arrancar nos 26.395 euros. Já estão disponíveis no mercado nacional.