A indústria automóvel baseada no Reino Unido – na sua maioria em Inglaterra – mostrou-se extremamente preocupada com o futuro, no dia em que a Primeira-Ministra britânica, Theresa May, entregou a carta em que acciona o artigo 50 do Tratado de Lisboa para a saída do seu país da União Europeia. O temor de que todos os carros ou produtos fabricados no Reino Unido sejam taxados à entrada do Velho Continente está a espalhar o nervosismo entre os muitos actores da indústria automóvel, no dia em que o "Brexit" deu o passo decisivo.
Até porque Donald Tusk, presidente do Conselho Europeu, que recebeu a carta formal do Reino Unido, depois de afirmar a sua tristeza com este dia, avisou que nas negociações tudo irá fazer para que os cidadãos da União não fossem minimamente prejudicados. O que foi encarado como um primeiro aviso de que não haverá grandes facilidades, nomeadamente fiscais, para quem quis abandonar a UE…
A associação da indústria automóvel britânica teme que, se o governo britânico não conseguir garantir um acordo para manter o livre acesso aos mercados dos restantes mercados europeus, mesmo os que não fazem parte da EU, os automóveis poderão ser taxados em 10%, colocando em risco o futuro das muitas fábricas instaladas no país.
Porque, se se fala numa forte indústria automóvel no Reino Unido, quase nada é, na verdade, de origem britânica… A Ford tem a maior fábrica de motores do país mas é norte-americana, algumas das maiores unidades de produção são as das japonesas Nissan, Toyota e Honda, a Mini e Rolls-Royce são alemãs (Grupo BMW), tal como a Bentley (Grupo VW), enquanto a Jaguar e Land Rover pertencem aos indianos da Tata. E até mesmo a Lotus ainda pertence aos malaios da Proton que poderá ser adquirida, em breve, pela Peugeot… que já comprou a Vauxhall, no negócio da Opel!
Mas não é só o problema fiscal que está a preocupar os grandes construtores presentes no Reino Unido, como fez questão de lembrar um porta-voz da BMW:
"Como grande investidor e empregador no Reino Unido consideramos que o governo deverá levar todo o negócio internacional em conta. Não apenas o livre comércio mas também as oportunidades de emprego transfronteiriças e a aplicação de regulamentações unificadas e aprovadas internacionalmente".
"Qualquer acordo deverá incluir a garantia do livre comércio com um espaço europeu mais alargado e não apenas com a União a 27, permitindo ao mesmo tempo reter os melhores talentos e recursos", reforçou Jim Farley, presidente da Ford of Europe, colocando também a tónica na necessidade de evitar entraves à imigração no Reino Unido para que as marcas possam contar com os trabalhadores mais qualificados.
Já este mês a Toyota anunciou um investimento de 235 milhões de euros na sua fábrica de Burnaston para a construção de automóveis sobre uma nova plataforma, mas na condição de manter o acesso livre ao mercado único europeu. E a BMW avisou que tem a flexibilidade necessária para deslocalizar a sua produção se o "Brexit" assim o exigir!
Também o vice-presidente da Nissan, Colin Lawther, já tinha deixado um forte recado acerca das eventuais consequências de um "Brexit" mal negociado. É da fábrica da marca em Sunderland que sai o "best-seller" Qashqai e, caso o Reino Unido voltasse às regras da Organização Mundial de Comércio, deixando de ter os benefícios fiscais de pertencer ao mercado único, isso significaria impostos de 10% sobre os carros e de 2,5 a 4,5% sobre as peças. O que acarretaria uma quebra nos lucros na ordem dos… 500 milhões de euros!