Nos tempos do "Era uma vez..." das histórias infantis, um motor V6 de 367 cv de potência poderia ser visto como um "super-herói" da mecânica. Hoje, está apenas a meio caminho entre os motores diesel e as mais radicais propostas a gasolina. Mesmo assim é uma proposta musculada e faz a diferença no AMG C43 Coupé.
DESIGN. A Mercedes tem uma grande tradição no campo dos coupés e a última evolução do Classe C mostra que os estilistas da marca recuperaram o espírito criativo. O antigo Classe C Coupé era pouco mais do que um "C" de duas portas, mas o actual tem uma personalidade própria, sublimada nas versões desportivas AMG, e esta é uma delas.
O AMG C43 Coupé AMG pode ser uma "versão de entrada na gama", mas é fácil gostar da imagem simples e da forma elaborada dos detalhes. É verdade que a AMG também tem propostas de equipamento que garantem uma imagem mais marcante aos modelos ditos normais. Mas a verdadeira essência da sua oferta vai muito além dos plásticos e dos pormenores, afirmando-se como outro tipo de matriz.
MOTOR. O V6 de 3.0 litros biturbo a gasolina debita 367 cv de potência e garante um binário de 520 Nm disponíveis entre as 2.000 e as 4.200 rpm. Os valores só são "magros" quando comparados com os disponíveis nos "pesos pesados" C63 e C63s com blocos V8 de 476 e 510 cv, respectivamente. Mas não podemos esquecer que este C43 serve de ponte entre os C Coupé "normais" e os "super-heróis".
E a maior diferença é evidente quando se abre o capot: a cobertura do motor está marcada por um "V" vermelho, diferente dos restantes blocos da AMG.
HABITÁCULO. No interior também encontramos este tipo de diferenças. À primeira vista, este é um AMG como os outros. Mas nem sempre o que parece é... Há pequenas concessões à qualidade dos materiais, que passam ao lado da maioria dos modelos com o brasão da marca de Affalterbach. Não há milagres: este é "um modelo de entrada de gama" para os alemães, apesar de ser um modelo de luxo em Portugal, e isso faz toda a diferença.
Os bancos de série são mais desportivos e envolventes do que os normais e é incontestável que a posição de condução não justifica críticas, o mesmo acontecendo com a visibilidade, apesar do pequeno vidro traseiro ser uma ligeira condicionante, mas isso é comum a todos os coupés. Este é um mero "pecadilho" a que ninguém escapa.
Nos lugares dianteiros há muito espaço e nos posteriores ele é muito honesto para duas pessoas, apesar de a acessibilidade ser a possível num automóvel destas características. Os bancos traseiros são rebatíveis (40:20:40) e isso é tanto melhor quanto o volume da bagageira, que não é uma referência. Os 400 litros são garantidos pela boa profundidade, que não favorece o plano de carga, mas a concorrência de Munique e de Ingolstadt têm propostas mais espaçosas no Serie 4 e no Audi A5.
AO VOLANTE. Este não é um coupé radical. Os seus 367 cv de potência são importantes, mas chegar aos 250 km/h não impressiona ninguém. Já os 4,7 segundos necessários para passar de 0 a 100 km/h atestam o carácter deste Coupé.
A tracção total permanente 4MATIC permite colocar a "cavalaria" no chão. O diferencial central divide o binário do motor pelos dois eixos, privilegiando o traseiro, como "deve" acontecer num desportivo. Mas, se o condutor pode abdicar do "big-brother" tecnológico nos "super-heróis" da AMG, neste caso ele é mais intrusivo e esqueçam lá às derrapagens com as rodas traseiras a fumegar...
Deixando de lado estas brincadeiras, vale a pena desfrutar de todo o potencial deste Coupé. O motor não é impressionante ao nível dos números, mas acaba por parecer mais potente do que na realidade é, graças à potencia disponível a baixo regime e ao bom desempenho da caixa automática de nove velocidades.
O condutor tem tanta potência debaixo do pé direito numa utilização urbana, como nas reacelarações, à saída das curvas, numa condução em estrada. Depois tudo pode acontecer à vontade do utilizador. Na transmissão, pode escolher entre os modos "Comfort", "Sport", Sport +" e "Race", apesar de este último ser pensado para quem gosta de aventuras em pista. Mas as alternativas não se ficam por aqui. Há opções semelhantes no campo da suspensão, e daí é possível partir para uma configuração personalizada onde cada um pode definir os parâmetros mais adequados ao seu estilo.
Cada qual sabe de si. Mas, para nós, o melhor compromisso passa pelo "modo Comfort" da suspensão, à medida do mau piso das nossas estradas, e pelo "modo Sport" ou "Sport +" na transmissão, que garantem reacelarações com um tempo de reacção muito mais rápido do que o "modo Comfort". Com este menu, tirámos todo o partido da condução deste coupé.
Admitimos que ele não causa as mesmas arritmias que nos provocaram os "super-heróis" da AMG, mas garantimos que oferece todo o prazer de condução que se espera de um coupé desportivo e, ao mesmo tempo, um excelente compromisso entre o comportamento dinâmico e o conforto. Sem grandes exageros é possível realizar consumos na casa dos 12 litros/100 km, mas quem tirar todo o partido do motor vai superar facilmente os 18 litros/100 km...
FICHA TÉCNICA
Motor
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V8 biturbo
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Cilindrada (cc)
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2.996
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Potência máxima (cv/rpm)
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367/5.500-6.000
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Binário máximo (Nm/rpm)
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520/2.000-4.200
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Velocidade máxima (km/h)
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250
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0 a 100 km/h (s)
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4,7
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Consumo médio (l/100 km)
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7,8
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Emissões CO2 (g/km)
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178
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Preço desde (€)
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83.100
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Versão ensaiada (€)
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98.810
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+ IMAGEM. A imagem é um grande trunfo num modelo que surge como uma ponte entre os coupés "normais" e os "super-heróis" da AMG.
- VOLANTE. Esta proposta não consegue disfarçar o seu estatuto de "entrada de gama" no quadro do mercado alemão. Em Portugal é uma proposta de luxo e deveria ter mais requinte.