Sebastian Vettel vai para férias com a liderança no Mundial alargada de 1 para 14 pontos, depois da vitória no G.P. da Hungria, onde a dupla da Ferrari não ilustra as dificuldades por que passou o alemão! Desde 2004 (com Schumacher), quando a Ferrari obteve a última dupla no Hungaroring, que o vencedor do G.P. da Hungria não é campeão do Mundo. Será desta?...
"Ponham as bandeiras de fora, Maranello!". Foi com este grito que Vettel comemorou um dos mais difíceis sucessos desde que está na Ferrari, depois de se debater com um carro algo limitado durante grande parte da corrida. Mas, na Hungria, os Ferrari estiveram muito mais rápidos que os Mercedes e até… "meio coxo" o SF70H do alemão – com alguma colaboração de Raikkonen, diga-se! – chegou para a sua 46.ª vitória, aproveitando o 4.º lugar de Hamilton para aumentar a vantagem no campeonato. Nos construtores, a desvantagem da Ferrari baixou para 39 pontos.
Numa partida crucial… todos largaram muito bem, com Vettel a assumir o comando bem protegido por Raikkonen e os dois Red Bull a passarem Hamilton mas, na excitação, Verstappen falhou a travagem na curva 2 e, pecado capital, acertou no colega de equipa, deixando Ricciardo fora da corrida!
"Não há muito a dizer… Tinha saído bem da curva 1, pude travar mais tarde para a 2 e foi quando senti a pancada. Foi amador para dizer o mínimo, provavelmente ele não gosta que o colega de equipa o passe", comentou o australiano.
"Havemos de resolver o assunto, a equipa fará a sua parte eu farei a minha".
Um erro que valeu ao holandês uma penalização de 10 s, o que significa que numa manobra mal calculada estragou a corrida a toda a equipa…
"Bloquei as rodas e, a partir daí, fui só um passageiro…", contou Verstappen.
"Nunca quis bater em ninguém, muito menos no Daniel com quem tenho uma relação fantástica. Tenho de lhe pedir desculpa ao Daniel bem como à equipa, mas vamos resolver isso em privado".
Obrigou também a uma longa presença do "safety car" para limpar o óleo na pista, mas no recomeço Vettel segurou facilmente a liderança e "desapareceu" dos radares, enquanto Raikkonen também se afastava de Bottas. Os Ferrari dominavam e, apesar do ritmo muito mais elevado, pareciam manter os pneus em melhores condições num asfalto escaldante. A primeira parte da corrida foi sensaborona, com os carros isolados e Hamilton sem conseguir passar Verstappen, embora seguro de ganhar a posição quando o holandês cumprisse a penalização.
Contudo, Vettel começou a perder terreno e, de dentro do Ferrari, percebia-se que o volante estava… torto, nas rectas o alemão levava-o virado para a esquerda!
"Assim que puseram o carro no chão o volante ficou torto e foi piorando. Depois diziam-me para não tocar nos correctores, logo nesta pista em que é fundamental ir aos correctores para sermos rápidos", contava Vettel ao engenheiro Jock Clear, depois de agradecer a Raikkonen por não o ter passado.
"Nas curvas para a direita não havia problemas mas, para a esquerda, obrigava a virar muito mais os braços". E a corrida ficou relançada porque o ritmo do alemão baixou, o colega de equipa chegou-se mas nunca foi autorizado a passar e isso permitiu que os Mercedes se aproximassem e tornassem uma ameaça.
A segunda parte da prova foi muito mais excitante, daquelas corridas em que a F1 da vertigem, da velocidade furiosa, das decisões em fracções de segundo mostra o seu lado de… paciência chinesa, de jogo de xadrez, de frieza absoluta! Vettel servia de "tampão" por não poder guiar a fundo, Raikkonen desesperava por ficar "ensanduichado" pelos Mercedes em recuperação mas sem que o deixassem passar e Hamilton apercebia-se de que tinha ritmo para atacar os carros vermelhos mas tinha Bottas pelo meio… Na Mercedes tomou-se a decisão: Bottas deixou Hamilton passar, se este não conseguisse superiorizar-se aos Ferrari teria de devolver a posição.
Hamilton rapidamente se aproximou de Raikkonen e o finlandês acelerou, colando-se mais a Vettel mas mostrando que os Ferrari, em boas condições, tinham um ritmo superior aos Mercedes. Vettel lá ia tentando tudo fazer para se manter na frente e levou até final o seu esforço para uma vitória que pode ser fundamental na luta pelo título.
"Sinto-me na lua! Foi uma corrida verdadeiramente difícil e sei que o Kimi podia ter sido mais rápido… Tive de me manter extremamente concentrado a corrida toda, gostava de ter tido algumas voltas para respirar mas não foi possível…", dizia Vettel que vai de férias (depois dos testes) com 14 pontos de avanço no Mundial.
"Podia ser pior… Mas agora quero é passar um tempo em casa, com a família, a descansar!".
Raikkonen mostrava-se tão satisfeito quanto o possível, após uma corrida que sabia que podia ter ganho. E foi profissional, como sempre:
"Infelizmente não pude chegar à vitória, mas tivemos uma dupla, o que é fantástico para a equipa. Aqui não é fácil de ultrapassar e quando é com o colega de equipa é preciso ter muito cuidado…". Verstappen que o diga…
E na Mercedes? O prometido foi cumprido mas de forma extremamente delicada, devido à recuperação final de Verstappen em relação a Bottas que não conseguira acompanhar Hamilton que lhe ganhara mais de 7 segundos! Como devolver, assim, a posição?...
"É duro para o campeonato ficar sem esses 3 pontos, mas sou homem de palavra, por isso tinha de lhe devolver o lugar", comentou Hamilton que deixou passar o finlandês em cima da meta, única forma de não perder o lugar para o ameaçador Red Bull…
"No final estava preocupado porque a desvantagem era muito grande, mas tenho de agradecer ao Lewis e à equipa por terem mantido a promessa", disse Bottas que ficou a 19 pontos de Hamilton.
"Foi pena porque tínhamos um bom ritmo de corrida, mas com a posição à partida não pudemos fazer melhor".
Hamilton teve uma corrida difícil, quase solitária porque desde cedo a sua "box" ficou sem rádio nem telemetria com o seu carro, problema que se manteve durante grande parte da prova, com pequenos momentos em que funcionou.
"Não foi perfeito, tratámos do problema o melhor que pudemos. Não sei porque os Ferrari ficaram tão mais lentos, mas eu era muito mais rápido e estava a ser travado pelo Valtteri, por isso pedi à equipa para ir atrás deles. Dei tudo o que podia até os pneus acabarem…", contou Hamilton.
E numa luta tão "apertada" pelo título, como pôde a Mercedes "tirar2 três pontos a Hamilton no final quando a sua vantagem para Bottas já era tão grande? Toto Wolff explicou:
"Até podemos vir a perder o campeonato por causa destes 3 pontos, mas foi este espírito que nos fez ganhar três títulos e mantemo-nos fiéis a ele. Foi uma das decisões mais difíceis, porque o Verstappen estava tão perto e não sabíamos se resultaria, mas continuo a acreditar que os valores sob os quais operamos são importantes. Até podem vir a dizer que perdemos o título por causa desta decisão, mas é assim que funcionamos. Porque, de momento, ambos os pilotos têm hipóteses reais na luta pelo título".
Verstappen estará agora a pensar o que poderiam ter feito os Red Bull se não tivesse sido a sua asneira na curva 2… O holandês conseguiu fazer 42 voltas com os pneus supermacios da qualificação (!) e um final de corrida rapidíssimo, recuperando os 10 s de penalização e acabando colado aos Mercedes!
"Podíamos ter ficado perto dos da frente, mas não tenho a certeza se teria dado para o pódio", dizia.
Luta rija houve pela sexta posição e entre espanhóis, com Fernando Alonso a mostrar a justeza da forte aposta numa mecânica fresca para a corrida húngara, depois de acirrada luta com Carlos Sainz (Toro Rosso), também ele autor de notável corrida, iniciada com "arranque-canhão". Para surpresa de todos, Alonso mostrou o potencial do chassis da McLaren fazendo… a volta mais rápida da corrida já perto do final!
"A volta mais rápida é uma surpresa e ser 6.º só foi possível por o Ricciardo ter ficado fora. Pensávamos num 7.º ou 8.º, mas este 6.º aceitamo-lo bem e é saboroso! Sabemos que há alguns fins-de-semana em que podemos maximizar o nosso potencial e este era um deles. Foi fantástica a luta com o Carlos, com alguns movimentos… ‘kamikaze’, ele fez de novo um trabalho fantástico!".
Em corrida, os Force India ganharam uma "vida" que não se lhes tinha visto nos treinos e lá voltaram a entrar nos pontos, com Perez a ganhar muitas posições, apesar da má paragem para troca de pneus. Mas há que destacar o 10.º lugar de Vandoorne porque ter dois McLaren no "top ten" é coisa que já é muito raro suceder… Por fim, a Renault teve um dia para esquecer, numa prova em que chegavam com enormes esperanças de treparem dois lugares na classificação. Afinal, Hulkenberg abandonou, Palmer não pontuou… e a equipa sai de Budapeste ainda mais longe da Toro Rosso… Classificação:
Pos | Piloto | Equipa | Tempo/Dif. | Box |
1 |
Sebastian Vettel |
Ferrari |
1.39.46,713 h |
1 |
2 |
Kimi Räikkönen |
Ferrari |
a 0,908 s |
1 |
3 |
Valtteri Bottas |
Mercedes |
a 12,462 s |
1 |
4 |
Lewis Hamilton |
Mercedes |
a 12,885 s |
1 |
5 |
Max Verstappen |
Red Bull |
a 13,276 s |
1 |
6 |
Fernando Alonso |
McLaren |
a 1.11,223 m |
1 |
7 |
Carlos Sainz |
Toro Rosso |
a 1 volta |
1 |
8 |
Sergio Pérez |
Force India |
a 1 volta |
1 |
9 |
Esteban Ocon |
Force India |
a 1 volta |
1 |
10 |
Stoffel Vandoorne |
McLaren |
a 1 volta |
1 |
11 |
Daniil Kvyat |
Toro Rosso |
a 1 volta |
1 |
12 |
Jolyon Palmer |
Renault |
a 1 volta |
1 |
13 |
Kevin Magnussen |
Haas |
a 1 volta |
1 |
14 |
Lance Stroll |
Williams |
a 1 volta |
1 |
15 |
Pascal Wehrlein |
Sauber |
a 2 voltas |
2 |
16 |
Marcus Ericsson |
Sauber |
a 2 voltas |
2 |
17 |
Nico Hülkenberg |
Renault |
a 3 voltas (Prob. mecânico) |
2 |
– |
Paul di Resta |
Williams |
Fuga de óleo |
2 |
– |
Romain Grosjean |
Haas |
Cubo da roda |
1 |
– |
Daniel Ricciardo |
Red Bull |
Colisão |
0 |
O Mundial de Fórmula 1 entra agora na sua pausa de Verão, regressando no fim-de-semana de 25 a 27 de Agosto, com o G.P. da Bélgica, no soberbo traçado de Spa-Francorchamps. Mas nem todas a gente vai já de férias, pois haverá ainda dois dias de testes na pista húngara, na terça e quarta-feira, com este programa. Só depois as equipas poderão parar cerca de três semanas, estando mesmo obrigadas a desligar os túneis de vento e todos os departamentos de engenharia!