O Dakar começou há 37 anos, inspirado no
Rali Abidjan-Nice, promovido por Jean-Claude Bertrand. A primeira edição começou
"no dia a seguir ao Natal", como gostava de dizer Thierry Sabine, o criador da grande maratona. E "valia tudo", o mesmo é dizer que o vencedor era quem chegasse primeiro independentemente de utilizar uma moto, um carro ou um camião.
Para a história ficou o domínio das motos de Cyril Neveu (Yamaha), Gilles Comte (Yamaha) e Philippe Vassard (Honda), que ofuscaram o quarto lugar do Range Rover de Genestier/Terblaut/Lemordant.
RANGE ROVER. No final dos anos 70 (e se calhar até hoje) não havia grandes alternativas ao Range Rover ao nível das performances e do desempenho fora de estrada. Por isso, o modelo marcou os primeiros anos do Paris-Dakar e, se o sucesso de Genestier/Terblaut/Lemordant em 1979 não teve o eco que poderia justificar, já a consagração da marca britânica surgiu em 1981 com o triunfo de René Metge/Bernard Giroux com um protótipo desenvolvido em França, já que a marca britânica nunca assumiu verdadeiramente este desafio.
VW ILTIS. Entre o sucesso do Land Rover de Genestier/Terblaut/Lemordant e a vitória de René Metge/Bernard Giroux, o
VW Iltis de Kotulinsky/Luffelman fez história. Pela primeira vez a prova teve uma classificação separada para carros/camiões. O Iltis foi o primeiro modelo inscrito a nível oficial por um construtor e, como se isso não bastasse, estreava um sistema de tracção total original, que veio a dar origem ao sistema quattro da Audi. Em 2003 e 2004 a VW regressou ao Dakar com buggies de duas rodas motrizes, mas percebeu que este caminho não levava à vitória, e em 2005 alinharam com o
Race Touareg, mas só começaram a vencer quando o Dakar de mudou para a América do Sul. Imbatíveis entre 2009 e 2011, trocaram a grande maratona pelo Mundial de Ralis.
RENAULT 20. Mas apesar do recurso a marcas tradicionais com provas dadas no todo-o-terreno e ao envolvimento de construtores como a VW, o "Dakar" viveu muito do bricolage e da paixão como a dos irmãos Marreau de Nanterre, em França. As grandes aventuras não eram novidade: estiveram presentes no Rali Abidjan-Nice e marcaram presença no primeiro Dakar com um R4.
Nos anos seguintes continuaram a marcar presença e a estar em foco, vindo a garantir o apoio da Renault e acabando por vencer em 1982 com um protótipo realizado com base no Renault 20 Turbo.
MERCEDES 280 G. O Dakar tinha-se tornado num fenómeno mediático e Jacky Ickx convenceu a Mercedes a encomendar à AMG um G 4x4, que alinhou na edição de 1983. A vitória do ex-piloto de F1 que conquistou os franceses com as vitórias em Le Mans fez manchetes em muitas revistas, tanto mais que ao lado do belga surgia Claude Brasseur, garantindo um mediatismo ainda maior.
PORSCHE. Em 1984, Jacky Ickx trouxe a Porsche para fora do seu ambiente. A marca
desenvolveu o 953 para esta aventura, mas o belga foi obrigado a vergar-se ao triunfo dos seus companheiros René Metge/Dominique Lemoyne. No ano seguinte os alemães regressaram com o novíssimo 959, um verdadeiro super-carro da época, mas nenhum dos três protótipos chegou ao final. Por isso, insistiram e em 1986 voltaram a vencer com René Metge/Dominique Lemoyne.
PEUGEOT. Quando a Federação Internacional de Automobilismo (FIA) baniu os Grupos B do Mundial de Ralis,
a Peugeot e o 205 Turbo 16 exilaram-se no Dakar. O nível tecnológico e os meios técnicos e financeiros disponíveis pelos franceses asseguraram quatro anos de domínio absoluto. Em 1987 e 1988 os 205 Turbo 16 não tiveram rivais e, quando evoluíram para os 405 Turbo 16 em 1989 e 1990, a vantagem foi ainda mais evidente. Depois de tantas vitórias, a marca francesa deixou o todo-o-terreno para se concentrar na conquista da vitória nas 24 Horas de Le Mans. Os franceses regressaram em 2015, com uma aposta num modelo de duas rodas motrizes, que acusou graves problemas de fiabilidade, mas em 2016 garantiram a vitória e estão na linha da frente dos favoritos para o Dakar de 2017.
CITROËN. A Peugeot cedeu aos modelos que nunca tinham conhecido a derrota e em 1991 o 205 Turbo 16 deu origem ao Citroën ZX e Vantanen ganhou o Paris-Tripoli Dakar com o Citroen ZX. Mas os franceses foram humilhados pela Mitsubshi em 1992 no Paris-Sirte-Cape Town, o mais longo Dakar de sempre, e em 1993. A Citroen alterarou radicalmente o projectoe somou vitórias entre 1994 e 1996 .
BUGGY SCHLESSER. No final dos anos 90, o "lobby" de Jean-Louis Schlesser junto da FIA permitiu alterar os regulamentos técnicos, favorecendo a "fórmula buggy" no todo-o-terreno. Mais leves e com pneus mais largos, passíveis de alterar a pressão desde o habitáculo, podiam levar de vencida os 4x4 cujos motores foram limitados ao nível da potência. O resultado não se fez esperar e os buggy, com um chassis encomendado nos EUA e equipados com motores Renault turbo, venceram em 1999 e 2000.
MITSUBISHI. A história desportiva da Mitsubishi tem tudo a ver com a história do Dakar,
onde garantiu 12 vitórias. Foi uma das primeiras marcas a apostar na prova, mas durante anos foi aproveitando as oportunidades. Foi assim em1985 com Patrick Zaniroli/Jean da Silva, mas já foi uma aposta mais tecnológica que permitiu humilhar a Citroën no Paris-Sirte-Cape Town em 1992. Os sucessos em 1997 e 1998, num período em que o Dakar procurava uma nova afirmação ao nível do regulamento técnico, mostraram que era necessário fazer mais e melhor, sobretudo depois do sucesso do buggy Schlesser.
Foi o que aconteceu com os modelos de 2001 e 2002, mas sobretudo com o protótipo de 2003 que, com mais ou menos evoluções foi imbatível até 2007.
MINI. Sven Quandt gosta tanto do Dakar como de dinheiro, e ao juntar as duas vertentes criou um negócio lucrativo. Membro da família que domina a BMW, geriu uma equipa com modelos da marca bávara, chegou a ser director da Mitsubishi e voltou ao negócio no quadro doméstico. Hoje a X raid é a imagem da Mini no todo-o-terreno, mas a gestão da equipa passa mais pela venda de serviços do que pela promoção da imagem de marca. Quem compete tem de pagar, porque é esse o negócio de herr Quandt. Mas, mesmo assim, os Mini da X-raid garantiram quatro vitórias consecutivas, entre 2012 e 2015, apesar das guerras internas, nunca fáceis de gerir...