Boa visão = viagem segura na estrada. A fórmula é simples. Se dentro do carro, no lugar do condutor, sabemos que dispomos, muitas vezes, de uma fração de segundos apenas para tomar decisões importantes que podem comprometer o bem-estar pessoal e dos outros em redor, há uma ação que, ainda antes de rodar as chaves e apertar o cinto de segurança, pode fazer a diferença. O número de acidentes de automóvel pode ser reduzido se simplesmente melhorarmos a visão dos automobilistas.
Estima-se que 2,5 mil milhões de pessoas em todo o mundo sofram de problemas de visão por corrigir. Deste universo, 217 milhões apresentam um défice visual moderado ou severo, 36 milhões são cegas e 1,1 mil milhões necessitam de correção para a visão de perto como resultado da presbiopia. Se encolhermos a amostra, estima-se que em Portugal o número de pessoas que necessita de alguma correção ou compensação visual ronde 1 milhão. Isto significa que um em cada seis portugueses apresenta um défice visual não corrigido.
Há boas notícias: 80% de todas as anomalias visuais podem ser prevenidas ou corrigidas! Estes são apenas alguns dos dados do Vision Impact Institute, a organização sem fins lucrativos totalmente financiada pelo Essilor Social Impact Fund, cuja missão é aumentar a conscientização da importância da correção e proteção da visão e tornar a boa visão uma prioridade global.
O impacto de uma boa visão vai além da saúde e do bem-estar pessoal. É condição essencial para aprender, trabalhar e permanecer seguro, nomeadamente na estrada. Segundo a Organização Mundial de Saúde, todos os anos 1,25 milhões de pessoas morrem em consequência de acidentes de viação e 50 milhões ficam gravemente feridas. Um estudo do Vision Impact Institute diz-nos que 60% dos acidentes de carro podem ser consequência de uma má visão. Mais: um em cada cinco condutores não vê a estrada com clareza devido a uma anomalia visual não corrigida.
Uma visão mal corrigida pode reduzir de forma notória o tempo de reação. Uma condução feita a 50 km/h por um condutor com 0.5 de acuidade visual significa que este precisa de mais de 3 segundos para identificar uma placa na estrada. Preocupante?
Embora seja imperativo que se receba a informação mais fidedigna e precisa através dos olhos enquanto conduzimos, a legislação sobre as necessidades visuais para obter ou renovar a carta de condução difere entre os países.
Em Portugal, não há obrigatoriedade legislativa de um exame ocular feito por especialistas como parte do processo. A primeira – e, muitas vezes, única – avaliação, cujo resultado pode ser positivo ou negativo, é feita pelo médico de família.
"Os candidatos à emissão da carta de condução devem ser sujeitos às indagações adequadas para assegurar que têm uma acuidade visual compatível com a condução de veículos a motor", lê-se nas normas mínimas relativas à aptidão física e mental para a condução de um veículo a motor da Ordem dos Médicos. Acrescenta-se: "Se houver alguma razão para duvidar de que tenham uma visão adequada, os candidatos devem ser examinados por uma autoridade médica competente." Um exame que deve incidir "sobre a acuidade visual, o campo visual, a visão crepuscular, o encandeamento e a sensibilidade aos contrastes, a diplopia e outras funções visuais que possam comprometer a condução em segurança".
Importa sublinhar que, entre janeiro e novembro de 2018, se registaram nas estradas portuguesas 31.214 acidentes com vítimas, dos quais 422 foram mortais. Dá uma média de 85,5 acidentes diários com vítimas e 1,1 morto por dia. Os dados constam no relatório de sinistralidade da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária.
Entre a correção dos fatores distrativos na estrada que são geralmente tópico na discussão sobre segurança rodoviária – melhoria das estradas, não conduzir sob o efeito de álcool, supressão do uso de telemóvel durante a condução, redução da velocidade na estrada – deveria constar ainda a proteção dos olhos e a compensação da má visão, tanto para condutores como para passageiros, utilizadores das estradas em todo o mundo. É importante que se reconheça o inegável: uma boa visão é o alicerce e o sentido mais importante nas tomadas de decisão na estrada, nas ciclovias e nos passeios.
Verifique regularmente a visão e não dispense os seus óculos na estrada. Proteja os olhos dos reflexos provocados pelo sol e pelas luzes à noite. São vários os estudos que indicam o encandeamento, durante o dia ou a noite, como a maior causa de desconforto visual dos condutores, reduzindo a capacidade de deteção e o tempo de reação.
Se já sentiu encandeamento, se os reflexos são incómodos ou se sente mais dificuldade em ver à noite, procure junto dos especialistas uma solução de lentes especialmente concebidas para a condução. Descanse! Não vai ser a primeira, nem a última pessoa, a confessar sentir-se menos segura na condução em ambientes mais desafiantes: