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O lado NEGRO da ecologia...

O lado NEGRO da ecologia...

18:45 - 17-06-2016
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A mobilidade eléctrica é um excelente detergente para consciências políticas, que nunca fizeram nada que se veja pelos problemas que estão na origem do "Aquecimento Global", mas é também um cavalo de batalha unificador daqueles que procuram fazer a diferença num planeta estereotipado onde "fica bem" ter um carro eléctrico, consumir produtos "light" ("limpos" com carradas de químicos) e ser vegan. Neste universo, um automóvel (dito) com emissões ZERO é a cereja em cima do bolo.

Sou indiferente a este tipo de posicionamento, mas tenho uma dúvida: será que alguém acredita que a energia eléctrica nasce de geração espontânea ou sabe (ou quer saber) tudo o que aconteceu até chegar a casa e carregar no interruptor para acender a luz?...

Acredito que a mobilidade eléctrica é importante, admito que pode ajudar a reduzir as emissões poluentes, mas considero ridículo o auto-proclamado rótulo de "Emissões ZERO", porque é uma balela. Basta olhar para um estudo de analistas da Sandford C. Bernstein sobre a realidade em Hong Kong, divulgado pela Bloomberg. A cidade, com estatuto de autonomia na República Popular da China, tem gravíssimos problemas de poluição e o estudo mostra que os automóveis eléctricos podem ter contribuído em 20% para o agravamento da situação.

À primeira vista pode parecer bizarro, mas para qualquer pessoa com dois dedos de testa é normal. Em Hong Kong, metade da energia eléctrica é produzida por centrais a carvão e, por isso, como escreve o redactor do estudo, seria mais importante que a cidade apostasse em fontes de energia alternativas do que nos apoios à compra de automóveis eléctricos.

Esta análise é tão detalhada que refere a presença de 400 Tesla Model S e muitos mais Nissan Leaf, concluindo que "ao fim de 150 mil quilómetros em Hong Kong, um Tesla Model S (emissões ditas ZERO) é responsável por mais 4,4 toneladas de CO2 do que um BMW 320i", num cálculo que valoriza o impacto da produção directa de energia eléctrica e aquele que está associado à produção das baterias, sem esquecer o que está ligado a construção do automóvel com motor de combustão interna, a refinação do combustível e o seu transporte.

Estes dados nunca são referidos, porque deitariam por terra políticas, políticos e activistas, mas a realidade é o que é. Também poderíamos falar no que vai acontecer às baterias que governantes e fabricantes afirmam que serão recicladas, sem nunca dizerem quando, onde e como, talvez porque ainda não conseguiram reciclar os pneus de todos os automóveis que se amontoam no planeta e que só são notícia quando surgem situações como o grave incêndio que teve lugar este ano às portas de Madrid.

Mas para quem assume as chamadas "energias limpas" como uma ideologia, é seguro que as baterias serão recicladas, nem que seja em aterros escondidos em África, no Cambodja ou no Vietname, porque, como diz o ditado: "olhos que não vêem, coração que não sente"...

Mas voltando a Hong Kong...
A Tesla, esse campeão da "energia limpa", foi obrigada a responder ao relatório da Sandford C. Bernstein e, como não poderia deixar de ser, colocou em causa os cálculos efectuados. Referiu que as emissões dos seus veículos são metade dos referidos, mas nunca enunciou os erros da análise, nem explicou que há diferenças radicais em termos das emissões inerentes à produção de energia a nível global. O que é verdade num estado dos EUA nem sempre é verdade na América ou no resto do Mundo.

Todos sabemos que as centrais a carvão continuam a ser fundamentais para a vida de muitas populações, apesar do seu impacto ambiental ser incomensuravelmente superior ao das centrais nucleares, apesar destas terem outro tipo de perigos. Mas quando entramos no radicalismo das Emissões Zero, os extremos parecem tocar-se e os ideais "verdes" têm muito a ver com o dos defensores do nuclear, seus arqui-inimigos. É sempre assim, mas não vale a pena ir por aí...
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